Se um dia se sentir satisfeito, pode ter a certeza de que você não é mais escritor

terça-feira, 14 de abril de 2009

"De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria sempre interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro."

(Trecho de O Encontro Marcado)


Olá...

Quem já me conhece ou acompanha o .status quo. há algum tempo sabe que meu livro favorito é o Encontro Marcado, de Fernando Sabino. Eu já falei tanto dele no status que vou aproveitar um pedaço de um desses posts só para situá-los no que eu vou falar:


"Ler este livro é como afirmar para mim mesma que tenho que escrever. Toda vez que leio, termino com uma vontade imensa de escrever, qualquer coisa que seja. Como disse pra Rafael-san uns dias atrás, descobri que pra escrever não preciso só da inspiração. Tem que vir antes a vontade de escrever. Não a obrigação de fazer capítulo tal para o dia tal (...) Quando é assim não sai bom. Os melhores escritos vêm quando há primeiro a vontade pura e simples de escrever."


Pois é. Há algumas semanas eu comecei a ler O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger. Também não vou falar muito sobre ele porque fiz um post especialmente sobre isso para o Etc, site que provavelmente vai estrear nessa semana (por isso não vou pôr o link ainda). Apesar de eu não estar falando coisa com coisa, o que eu queria mesmo era dizer o que o Apanhador tem em comum com o Encontro Marcado.

O estilo de Fernando Sabino em Encontro Marcado lembra muito o de Ernest Hemingway, que eu também adoro. Enquanto Hemingway refletia o pessimismo da “geração perdida” do pós Primeira Guerra Mundial, Fernando Sabino refletia o do pós Segunda Guerra, assim como J. D. Salinger em O Apanhador, ainda que num nível muito menor.



- Esta queda para a qual você está caminhando é um tipo especial de queda, um tipo horrível. O homem que cai não consegue nem mesmo ouvir ou sentir o baque do seu corpo no fundo. Apenas cai e cai. A coisa toda se aplica aos homens que, num momento ou outro de suas vidas, procuram alguma coisa que seu próprio meio não lhes podia proporcionar. Ou que pensavam que seu próprio meio não lhes poderia proporcionar. Por isso, abandonam a busca. Abandonam a busca antes mesmo de começá-la de verdade.


(Trecho de O apanhador no campo de centeio)


Esses três autores me inspiram muito. São livros que me fazem ter uma vontade quase que incontrolável de escrever. Quando terminei de ler O apanhador no campo de centeio eu quase não acreditei que era realmente o final. Foi um baque. E foi perfeito. A narrativa tinha um ritmo tão frenético que chegar à última frase é um soco e tanto.

O que o Apanhador e Encontro Marcado têm em comum, principalmente, é essa coisa de me fazer pensar no próprio ato de escrever. É essa capacidade de inspirar, de ir nas entranhas do que realmente se sente quando parece que minha vida depende disso, de pegar uma folha em branco e pôr nela o que eu preciso escrever.


Recomendo estes livros a todos. É sério.

Até mais e desculpa pela demora em postar xD



"(...) o sentimento não é bem de arrependimento, é uma espécie de nostalgia - já lhe disse isso. Nostalgia daquilo que a gente não é, dos lugares onde não esteve, das coisas que não chegou a fazer... Se você não tiver isso, se um dia se sentir satisfeito, pode ter a certeza de que você não é mais escritor."

(Trecho de O Encontro Marcado)

6 comentários:

Atreyu disse...

Realmente! Há autores que dão milhares de ideias pra gente!
Tenho os meus prediletos também

Phillip Pullman
Stephen King
Toni DiTerlizzi & Holy Black
Khaled Hosseini

=D

Adoro ler…

Larissa. disse...

Ahhh, em um post meu eu escrevi a passagem que mais amo do Encontro Marcado... esse livro eh realmente muito bom! As crônicas do Sabino também são ótimas ;)

;**

.ana disse...

eu estava precisando de recomendações de livros.. adorei!
[é que comecei a ler "saco de ossos" do stephen king, mas a narrativa dele não me atraiu mt... daí to quase sem estímulo para continuar! =P]

bjos!!!

Mila disse...

Oi Moony, legal saber que alguém ainda dá valor a leitura.
A maioria hj em dia, não sei se pela correria, falta de tempo ou vontade, as pessoas não tem mais esse interesse, quanto menos escrever.
Bacana da sua parte.
Beijusss

Anônimo disse...

Os meus favoritos são Malba Tahan( adoro a forma como proporciona uma nova forma de ver cada experiência em suas narrativas, Herman Hesse do Lobo da Estepe pelo mesmo motivo.
O Apanhador tem para mim as mesmas caracteristicas refletia o pessimismo de uma geração que sofreu e sobreviveu, da desilusão e amargura acrescentada a capacidade de compreender e suportar para sobreviver que encontrei como pano de fundo do Homance dum Homem Rico de Camillo Castelo Blanco livro que já li muitas vezes, e que sempre me Lembra O Palácio do Desejo de Nagib Mahfuz que ao longo da aclamada trilogia do Cairo, reproduz a evolução das idéias que marcaram profundamente a sociedade egípcia entre as duas grandes guerras. Narrando o cotidiano da família de um pequeno comerciante do Cairo, Ahmed Abd el-Gawwad, destaca a contradição de um homem severo e cumpridor dos rígidos deveres religiosos no ambiente doméstico, mas que se revela afável e sedutor fora de casa. Neste segundo volume, repleto de sensualidade e beleza, a autoridade de Ahmed vai ser abalada por diversos acontecimentos: os filhos estão crescendo e revelam, por meio de suas paixões, como suas personalidades são distintas e como a família é contraditória. Nagib Mahfuz, é ganhador do nobel de literatura, e uma das maiores referências da literatura islâmica.
Recomendo!!
bju!!

Daniel Savio disse...

Bem, para mim teve uma lógica, que fala de escrever com a alma e não apenas por escrever...

E que essa alma deve ser alimentada com bons textos.

Ou estou errado?

Fiquem com Deus, galera.
Um abraço.